A Comissão de Economia, Finanças Orçamento e do Mercosul (Cefor)
realizou, na manhã desta terça-feira (8/10), reunião para tratar da presença da
economia dos povos de matriz africana na vida e na história do Mercado Público
da Capital e o impacto da proposta do Executivo que prevê a concessão por
Parceria Público Privado (PPP). O vereador Airto Ferronato, presidente da
Comissão, abriu a reunião e destacou as comemorações por conta da semana dos
150 anos do Mercado Público. “É fundamental trazer este assunto, pois estamos
tratando de uma herança histórica do nosso Estado e deve ser debatida no
Legislativo municipal."
Fotos: Camila Graneto
Yá Vera Soares, coordenadora nacional de Mulheres do Fórum Nacional de
Segurança Alimentar dos Povos Tradicionais de Matriz Africana e da Coordenação
Geral do Fonsanpotma/RS, ressaltou a importância da tradição do seu povo de
matriz africana para o Rio Grande do Sul e que resiste até hoje buscando uma
identidade. “Este religar nos reduz ao termo de matriz africana que hoje nos
ressignifica tratando das desigualdades no nosso país. E esse momento que nos
traz para a Câmara discutindo perdas morais.”
Ela ainda destacou a reivindicação da valorização da população e do
governo municipal, pois o Mercado Público tem nas suas características o sangue
do povo negro. “Somos partícipes da renda que gera o Mercado Público, existem
no Rio Grande do Sul cerca de 60 mil casas de matriz africana, mas acredito que
os nossos parlamentares vão repensar a questão da valorização e participação do
povo negro dentro do Mercado Público, pois isso não vem ocorrendo”, informou.
Yá Itanajara de Almeida, que é coordenadora de Finanças da Fonsanpotma
RS, falou sobre os inúmeros insumos que são consumidos pelas casas de matriz
africana tradicional. “As velas de sete dias são utilizadas pelas 2 mil casas
que existem na Capital, gastamos R$ 52 mil por mês e R$ 150 mil por ano. Além
da utilização do milho, da farinha de mandioca, da batata inglesa, sendo R$ 108
mil por semana e R$ 298 mil por mês”, explica.
Conforme ela, muitos produtos do Mercado Público são consumidos pelas
religiões de matriz afro, e com a concessão surge uma preocupação sobre a
liberdade de entrar e sair do local com a frequência que existe hoje.
O secretário municipal de Parcerias Estratégicas, Thiago Barros Ribeiro,
falou sobre o conceito utilizado para a concessão do Mercado Público. “Não
vamos vender nenhum espaço do Mercado para não perder o caráter do local, e
isso passa pelo “sagrado”, o Bará, e as floras que já possuem seus locais
específicos, que já são históricos."
Segundo ele, o serviço prestado no Mercado já existe há 150 anos, e as
pessoas se sentem bem justamente pela essência que ele tem. “A concessão não
irá alterar a sua estrutura histórica, não vamos deixar que se perca e vamos
ter uma reunião nessa semana com a presença dos representantes dos povos de
matriz para que juntos possamos discutir o melhor para o Mercado Público. O
secretário disse ainda que a licitação será concluída no final deste ano e a
execução será realizada no início de 2020. “Vamos casar os interesses públicos
e viabilizar a melhor utilização do Mercado Público para os permissionários e a
população, sem perder a sua essência”, afirmou
Fotos: Camila Graneto
Como encaminhamento da reunião, foi sugerido pelo vereador Ferronato a
realização de uma reunião pública na Câmara, solicitada pela Cefor e com a
participação do vereadores e permissionários no Mercado Público e um pedido de
levantamento do Fundo do Mercado.